Juros
Os juros futuros arrefeceram a alta e encerraram a sessão regular desta quarta-feira (2) em leve alta, que se sustentou, principalmente, nos vértices mais longos da curva. A votação dos destaques da reforma da Previdência no Senado esteve no foco dos agentes, que também mantiveram o ritmo dos negócios no exterior no radar. Preocupações em torno da atividade industrial ao redor do globo fizeram com que o debate em torno de novos cortes nos juros permanecesse no ar, o que deixou as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) de curto prazo praticamente estáveis.
Depois que o Senado impôs uma derrota ao governo, diminuindo a economia total da reforma da Previdência em cerca de R$ 80 bilhões em dez anos, os investidores se mantiveram atentos a Brasília durante todo o dia. Os senadores voltaram a avaliar outras propostas de mudanças no texto principal da reforma, mas todas foram rejeitadas e o Senado concluiu a votação que teve início na terça (1º).
Apesar de novas derrotas do governo terem sido evitadas, as taxas futuras permaneceram em alta, embora os ganhos tenham sido arrefecidos. “Os investidores esperavam uma tramitação mais fácil no Senado, sem desidratação substancial do texto principal”, diz um gestor, que preferiu não se identificar. Nos cálculos do Itaú Unibanco, o impacto fiscal da reforma, após a aprovação final do destaque sobre abono salarial, caiu para R$ 735 bilhões nos próximos dez anos. Já os economistas do J.P.Morgan estimam impacto ainda menor, de R$ 702 bilhões no período.
Os contratos futuros dos Fed funds, compilados pelo CME Group, apontavam, na tarde desta quarta que, até dezembro, as chances de duas reduções de 0,25 ponto percentual nos juros americanos passaram de 27,5%, ontem, para 40,0%, hoje. “Acho que, definitivamente, existem muitas incertezas e riscos por aí, mas precisamos navegar”, disse o presidente da distrital de Nova York do Federal Reserve (Fed, o BC americano), John Williams, que se mostrou favorável aos dois cortes nos juros anteriores. Em evento, ele observou que o sentimento parece mudar de uma semana para a outra.
Ao menos por enquanto, os mercados de renda fixa continuam a indicar que as taxas de juros devem continuar em queda. A decepção com os indicadores nos EUA ontem e hoje fez com que, pela primeira vez em um mês, o rendimento (yield) da T-note de dez anos perdesse o nível de 1,6%. Por volta das 16h (horário de Brasília), o retorno recuava para 1,595%.
DI1F20: 5,04% (0 bps)
DI1F21: 4,96% (0 bps)
DI1F23: 6,02% (0 bps)
DI1F25: 6,62% (0 bps)
DI1F27: 6,95% (0 bps)
Câmbio
O alívio na cotação se deu ainda no dia em que o Senado concluiu a votação em primeiro turno da proposta de reforma da Previdência, ainda que a economia total esperada tenha sido reduzida. O dólar à vista caiu 0,67%, a 4,1344 reais na venda. Na B3, o contrato de dólar de maior liquidez cedia 0,64%, a 4,1400 reais.
A máxima do dia (4,1825 reais na venda) foi alcançada no começo da sessão e a partir de então o dólar só perdeu força para bater uma mínima de 4,1304 reais perto do fim do pregão. “A impressão é que o mercado vendeu bolsa e desmontou o hedge”, disse um gestor em São Paulo.
O Ibovespa caiu 2,9%, mínima de fechamento desde 3 de setembro. O real tem ficado atrás da Bolsa e da renda fixa nos últimos meses justamente porque tem servido de ativo de proteção aos investimentos nesses mercados.
Além do ajuste negativo no dólar nos mercados externos, devido a mais dados fracos nos EUA, analistas destacaram que cada vez mais surgem sinais de que a atividade econômica do Brasil tem se destacado positivamente em relação ao mundo. E a volta do crescimento é um fator citado por analistas como necessário para o retorno do fluxo cambial ao país, o que ajudaria a baixar o dólar.
“Brasil na contramão do mundo? Será que agora veremos o contrário? Segundo o PMI, esse cenário se mostra mais provável”, disse Tomás Goulart, sócio e economista-chefe na Novus Capital, em referência a indicadores de atividade do setor manufatureiro.
Bolsa
As perdas na bolsa paulista ainda foram endossadas por um “tropeço” na votação da reforma da Previdência, com o governo derrotado em um destaque que derrubou novas regras mais rígidas sobre o abono salarial. O Ibovespa caiu 2,9%, a 101.031,44 pontos, mínima de fechamento desde 3 de setembro. O volume financeiro no pregão somou 17,1 bilhões de reais.
Nos Estados Unidos, Wall Street fechou com fortes perdas, após dados sobre a criação de empregos no setor privado norte-americano reforçarem temores sobre o ritmo da atividade naquele país, já evidenciados por números da indústria na véspera. O Relatório Nacional de Emprego da ADP divulgado pela manhã mostrou que os empregadores privados nos EUA criaram 135 mil postos de trabalho em setembro. Economistas consultados pela Reuters previam a criação de 140 mil vagas.
“Os dados de criação de emprego no setor privado dos EUA vieram piores do que as projeções e azedaram o humor no mercado”, destacou a equipe da Elite Investimentos mais cedo.
Para o analista Filipe Villegas, da Genial Investimentos, as fortes perdas nas bolsas refletiram uma visão mais conservadora de investidores que estão colocando na conta riscos de uma mudança no ciclo econômico, para crescimentos menores à frente.
“Todo mundo está em momento observação, de adotar postura mais conservadora, levando em consideração que cada vez mais há dados que evidenciam essa mudança de ciclo”, afirmou.
A ameaça de nova disputa comercial transatlântica, desta vez entre EUA e União Europeia, endossou as vendas nas bolsas globais, enquanto ainda se espera um desfecho para o embate EUA-China, que já tem afetado as duas maiores economias do mundo.
A Organização Mundial do Comércio (OMC) autorizou os EUA a imporem tarifas sobre 7,5 bilhões de dólares em bens europeus, em disputa sobre subsídios à Airbus, o que levou o governo norte-americano a anunciar itens sujeitos a novas tarifas.
No Brasil, o Senado concluiu a votação em 1º turno da reforma da Previdência, mas ela foi contaminada pelas discussões sobre o pacto federativo e disputas por protagonismo com a Câmara dos Deputados, além de derrota do governo em destaque que reduziu a economia prevista com a reforma.
- VALE ON caiu 5,47%, alinhada ao movimento das ações das principais mineradoras globais, em meio às preocupações com a atividade global e potencial efeito na demanda por commodities. Foi a maior queda diária considerando o fechamento desde o tombo de 24,5% em 28 de janeiro após o desastre na barragem de rejeito de minério da empresa em Brumadinho (MG). BRADESPAR PN, que concentra seus investimentos na mineradora, recuou 4,91%.
- BRADESCO PN e ITAÚ UNIBANCO PN recuaram 3,86% e 2,75%, respectivamente, entre as maiores pressões de baixa do Ibovespa, com o setor bancário como um todo no vermelho, contaminado pelas vendas generalizadas na bolsa. Também no radar esteve reportagem do portal Uol citando que investigadores da Lava Jato agora apuram se os grandes bancos citados em fases da operação também são responsáveis pelos crimes cometidos. Na reportagem, as instituições reiteram compromisso com regras de prevenção à lavagem de dinheiro. BANCO DO BRASIL ON caiu 3,4% e SANTANDER BRASIL UNIT fechou em queda de 3,04%.
- PETROBRAS PN caiu 2,87%, contaminada ainda pela fraqueza dos preços do petróleo no mercado externo. PETROBRAS ON cedeu 3,6%.
- MARFRIG ON fechou com variação positiva de 0,09%, entre as poucas altas do índice na sessão, dando sequência à valorização dos últimos pregões, enquanto JBS ON caiu 4,40% e BRF ON cedeu 1,18%. Na contramão, MINERVA ON, que não está no Ibovespa, avançou 3,82%, após assinar memorando para formar uma joint venture com dois empresários chineses focada em distribuição de carne bovina na China.
- AREZZO ON valorizou-se 2,96%, entre as poucas altas do índice Small Caps, tendo no radar acordo segundo o qual será distribuidora exclusiva de calçados, vestuário e acessórios da marca Vans no território brasileiro.
- MARCOPOLO PN subiu 2,45%, tendo de pano de fundo dados sobre vendas de ônibus no país, incluindo revisão para cima nas estimativas da Fenabrave para a comercialização da categoria, para quase 37% em 2019.
Fontes: Valor e Reuters