A deterioração do ambiente político na última semana, agravada pela troca pública de provocações entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, abalou a confiança dos mercados financeiros no avanço da mais importante pauta do governo: a reforma da Previdência.
O receio de que o governo não consiga fazer a articulação política de forma a viabilizar uma reforma suficiente para afastar o risco de solvência do país no médio prazo fez o dólar disparar e derrubou a bolsa de valores. Para o ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Rodrigo Azevedo, hoje sócio e gestor da Ibiúna Investimentos, ainda é cedo para apostar que não haverá reforma. Mas o que o mercado está refletindo é que os riscos de cauda tornaram-se muito mais elevados.
Você pode dizer que há uma disputa entre Congresso e presidente, mas não é racional assumir que os dois vão levar às extremas consequências essa postura, que seria explosiva para o país", afirma Azevedo. "A gente acredita que, em algum momento, os agentes que estão liderando o país serão racionais, embora reconheça que essa hipótese tornou-se menos provável diante dos últimos acontecimentos."
Para Azevedo, embora a temperatura em Brasília tenha subido, nem o Executivo, nem o Legislativo adotaram uma retórica contrária à reforma. "É uma negociação que está em curso... A negociação evolui, não é estanque, há recuos e avanços. Até agora não vi um ato que seja definitivo", afirma.
A ansiedade do mercado financeiro com esse tema, entretanto, é bastante justificada: a aprovação da reforma é condição necessária para que o crescimento econômico seja, enfim, retomado. Além de ser uma medida fundamental para conter o desarranjo das contas públicas, trata-se de um teste sobre a capacidade de governabilidade deste governo, sobre a qual pesa muito ceticismo. "Não vamos resolver o problema fiscal de uma hora para a outra. Mas a reforma tem um simbolismo", diz.