Juros
Faltando poucos dias para a última decisão de juros do semestre, os investidores reforçaram as apostas na queda da Selic até o fim do ano. Num período de uma semana, o mercado de juros futuros praticamente dobrou a redução projetada para a taxa básica em 2019. Agora, de acordo com operadores, a discussão deve se concentrar cada vez mais na intensidade da flexibilização monetária e no momento do primeiro movimento.
A aposta na baixa da Selic se concentra nas decisões que ocorrem em setembro e outubro. Para o anúncio do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana que vem, há apenas apostas marginais de corte e a expectativa majoritária é de manutenção da taxa em 6,5%.
A consultoria Capital Economics faz parte do grupo bastante restrito que vê corte da Selic já na próxima quarta-feira (19), para 6,25%. O que motiva essa expectativa é a leitura de que o cenário global está mais favorável para emergentes por causa da possibilidade de queda dos juros nos Estados Unidos. Em mais uma evidência do espaço para estímulo na economia, o IBC-Br de abril teve contração de 0,47% ante o mês anterior. O resultado ficou abaixo da mediana das estimativas, de queda de 0,1%. Diante desses fatores, os juros futuros conseguiram se desviar da aversão ao risco que afetou os principais ativos locais nesta sexta-feira (14).
Enquanto o dólar subia mais de 1% e o Ibovespa perdia terreno, as taxas dos DIs continuaram devolvendo prêmio de risco. O DI para janeiro de 2021, por exemplo, terminou a sessão regular a 6,02%, ante 6,07% no ajuste anterior. Os analistas têm adotado cada vez mais a flexibilização monetária como algo que se concretizará em 2019. Dentre 63 instituições financeiras consultadas pelo Valor nesta semana, ninguém espera corte já na próxima quarta, mas 38 trabalham com algum corte de juros até o fim do ano. Isso representa 60% do total, praticamente o dobro do percentual observado às vésperas da decisão do Copom de maio.
DI1F20: 6,03% (0 bps)
DI1F21: 5,99% (- 5 bps)
DI1F23: 6,92% (- 5 bps)
DI1F25: 7,48% (- 2 bps)
DI1F27: 7,85% (- 1 bps)
Câmbio
Após três semanas consecutiva de queda, na qual acumulou desvalorização de 5,40% surfando uma onda positiva tanto na política interna como no cenário exterior, o dólar voltou a registrar uma semana de alta com o resultado deste pregão, no qual acumulou valorização superior a 1%.
No encerramento dos negócios, a moeda americana subiu 1,19%, aos R$ 3,8996. Com o resultado, fechou a semana com alta de 0,57%. O fim do movimento coincide com a apresentação, ontem, do relatório do deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) sobre a reforma da Previdência na comissão especial. O impacto fiscal do texto do tucano, que ficou entre R$ R$ 915 bilhões e R$ 1,13 trilhão, agradou participantes do mercado. No entanto, como boa parte das mudanças promovidas pelo relator já havia sido precificada, a divulgação do relatório foi sucedida apenas de um ajuste de posições.
Passada essa etapa, participantes de mercado começam a monitorar agora o tamanho da diluição que o texto pode sofrer, bem como possíveis atrasos. O texto de Moreria ainda precisa ser votado na comissão especial, onde não tem data para ser apreciada, antes de passar ao plenário da Câmara.
Após semanas de relativa calmaria, os ruídos políticos também prometem voltar a turvar o cenário. Ainda ontem, o presidente Jair Bolsonaro deu a largada ao demitir o general Santos Cruz, o que foi lido como uma sinalização de força da ala ideológica do governo, encabeçada pelo filósofo Olavo de Carvalho e pelos filhos do presidente. Esta tarde, o ministro da Economia, Paulo Guedes, adicionou lenha na fogueira ao tecer críticas ao relatório de Moreira. “Vou respeitar a decisão do Congresso, mas é importante saber que o relator, se aprovar a reforma dele, abortaram a nova Previdência”, disse Guedes. Presidente da Câmara e um dos principais articuladores da reforma, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) procurou minimizar as críticas, mas não deixou de rebater o ministro. “Não vamos entrar nessa falsa crise. É importante respeitar o contraditório; Guedes falhou nisso hoje”, disse o demista, que cutucou: “o que eu gostaria é que o ministro explicasse é a transição que ele assinou para as Forças Armadas, que é de 17% além do tempo que falta para se aposentar. A nossa é de 100%.”
Bolsa
O Ibovespa fixou-se no campo negativo e operou em queda durante praticamente toda a sessão de hoje. O movimento de queda intensificou-se no início da tarde, quando o índice retornou às mínimas no patamar dos 97 mil pontos. No fechamento, a desvalorização era de 0,74%, aos 98.040,06 pontos. Além da influência dos mercados externos e dos impactos de dados da atividade econômica mais fracos, o mercado também reagiu às falas do ministro da Economia, Paulo Guedes e, posteriormente, aos comentários do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Durante a tarde, Guedes criticou duramente o parecer do relator da reforma da Previdência, Samuel Moreira (PSDB-SP), lido ontem na Comissão Especial da Câmara. Para Guedes "está vencendo a velha Previdência". Ele é contra a retirada da emenda de capitalização e também a exclusão de Estados e municípios do relatório. Em conversa com jornalistas, Rodrigo Maia afirmou que o ministro não está sendo justo com as críticas feitas ao Parlamento, além de apontar a "usina de crises do governo" e acusar Paulo Guedes de desrespeitar ideias contraditórias.
O ruído político parece não ter agradado os investidores, que aumentaram o nível de cautela enquanto aguardam os próximos passos da tramitação da reforma. Nos bastidores, afirma-se que o Centrão avalia que as críticas de Guedes compromete o calendário da Previdência.
Entre as ações afetadas por questões mais particulares estão as do setor bancário, que mais um dia refletem a possibilidade de aumento da tributação sobre bancos como forma de arrecadar mais para os cofres públicos. A ideia é aumentar a contribuição social sobre o lucro líquido (CSLL) de bancos a uma taxa entre 15% e 20%, prevendo uma arrecadação de R$ 5 bilhões por ano. Os recursos ajudaram a reduzir o rombo previdenciário. Todos os papéis de bancos fecharam em queda: Bradesco ON (-1,36%); Bradesco PN (-0,17%); Santander UNT (-0,32%) e Banco do Brasil ON (-1,77%). Itau PN foi à exceção à regra, registrando alta marginal de 0,03%. Divulgado mais cedo, o IBC-Br de abril teve contração de 0,47% ante o mês anterior. O resultado ficou abaixo da mediana das estimativas, de queda de 0,1%, e também colaborou para o movimento mais cauteloso visto na bolsa ao longo do dia.
A economia chinesa também apresentou sinais de fragilidade com queda da produção industrial para o menor nível desde 2002, o bastante para afetar as bolsas do país. A semana chega ao fim com índices mundiais estáveis e, em sua maioria, negativos. Ontem, o presidente Donald Trump acusou o Irã pelos ataques aos navios que transportam petróleo no Golfo de Omã, no Oriente Médio, causando mais uma tensão global. O presidente do Irã, Hassan Rouhani, nega qualquer envolvimento do país com o ocorrido e afirmou que as acusações ameaçam a estabilidade do Oriente Médio.
Fontes: Valor e Reuters