Juros
Alguns ruídos políticos no ambiente local e declarações de líderes do Federal Reserve (Fed, o BC dos Estados Unidos) levaram os investidores a realizar lucro no mercado de renda fixa e os juros futuros encerraram o pregão regular desta terça-feira (25) em alta.
Um dos pontos que incentiva o movimento de realização é a discussão sobre a agenda de votação, na comissão especial da Câmara, do parecer do relator da reforma da Previdência, Samuel Moreira (PSDB-SP). Na segunda (24), o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) reconheceu que a votação pode ficar para a semana que vem e, nesta terça, segundo o relato de operadores, chamou atenção a declaração do líder do PP na Casa, deputado Arthur Lira, defendendo o adiamento da votação, o que acentuou o movimento dos ativos no meio do dia.
Lá fora, as declarações do presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, influenciaram os mercados. O dirigente disse que as condições econômicas ainda não asseguram um corte de meio ponto percentual na taxa de juros de referência, contribuindo para o movimento de realização do mercado local.
Os investidores também ajustaram suas posições ao longo do dia considerando o cenário de política monetária, após a divulgação da ata da última reunião do Copom. A principal mudança da ata em relação ao comunicado do Copom foi o diagnóstico do arrefecimento da atividade, na avaliação do Bradesco.
Na avaliação do banco, o Banco Central deixou aberta a possibilidade de corte de juros nas próximas reuniões, à medida que a agenda de reformas avançar e as condições de contorno da atividade e inflação permitirem um corte de juros. “Continuamos, portanto, com a expectativa de cortes na taxa Selic, encerrando este ano em 5,75%.”
O mercado acompanhou de perto também a divulgação do IPCA-15 ‒ uma prévia do índice usado pelo governo como referência para o cumprimento da meta de inflação ‒, que apresentou alta de 0,06% em junho, após o avanço de 0,35% de maio. A mediana das projeções de economistas consultados pelo Valor Data apontava alta de 0,07% no mês.
DI1F20: 6,02% (+6 bps)
DI1F21: 5,95% (+9 bps)
DI1F23: 6,76% (+6 bps)
DI1F25: 7,29% (+6 bps)
DI1F27: 7,65% (+5 bps)
Câmbio
O dólar encerrou em alta moderada na tarde desta terça-feira, em um movimento identificado por profissionais de mercado como uma correção após o bom desempenho da moeda brasileira nas últimas semanas. No encerramento do pregão, a moeda era negociada em alta de 0,68%, aos R$ 3,8528. O desempenho fez do real a moeda com pior desempenho no dia entre as 33 divisas mais líquidas do mundo.
O noticiário foi farto em temas que ajudaram a explicar o ajuste de hoje. Internamente, pesaram as declarações de parlamentares que indicavam um atraso na votação do texto da reforma da Previdência na comissão especial. Líder do DEM na Câmara, o deputado Elmar Nascimento (BA) afirmou que o texto deve ficar para a próxima segunda. Elmar ainda ainda criticou o PSL por propor destaques ao parecer para categorias ligadas à segurança pública. “Então eles vão posar de bonzinhos e nós seremos os maus?”
Paralelamente às discussões sobre a Previdência, houve a decisão do Supremo Tribunal Federal de analisar habeas corpus do ex-presidente Lula.
No exterior, a moeda americana recebeu maior procura após o presidente do Federal de St. Louis, James Bullard, contrariar a orientação dada na semana passada e dizer que as condições econômicas ainda não asseguravam corte de 0,5 ponto porcentual nos juros.
Bullard, que é um membro reconhecido por suas posições “dovish”, favorável aos estímulos, acabou ofuscando os comentários dados pelo presidente do Fed, Jerome Powell, que seguiu na linha do comunicado da semana passada. O dirigente afirmou que vai monitorar de perto os dados para agir de acordo com eles. Os comentários de Bullard destoaram do tom do Fed na semana passada, quando a autoridade monetária passou indicar a possibilidade de cortes de juros pela primeira vez este ano. Ainda assim, 100% dos investidores ainda acreditam em um corte de pelo menos 0,25 ponto porcentual já na próxima reunião, em julho, de acordo com dados coletados pelo CME Group nos futuros dos fed funds.
Bolsa
O principal índice da bolsa fechou em forte queda nesta terça-feira, quase perdendo o patamar dos 100 mil pontos após bater recorde nas duas sessões anteriores, com o mercado repercutindo o discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e permeado por ruídos políticos que incluíram julgamentos no STF de pedidos de liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Ibovespa fechou em baixa de 1,93%, a 100.092,95 pontos. Praticamente todas as ações do índice encerraram no vermelho, com exceção de JBS. O volume financeiro da sessão somou 15,08 bilhões de reais.
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, disse que o banco central dos Estados Unidos está "isolado das pressões políticas de curto prazo" e afirmou que ele e seus colegas estão lutando para saber se a incerteza sobre o comércio e outras questões dão suporte para um corte de juros no país. Há ainda a expectativa da escalada das tensões entre EUA e Irã, com o porta-voz do governo iraniano dizendo que as sanções norte-americanas contra o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, são um ataque contra o país. Além do encontro do presidente chinês, Xi Jinping, com Donald Trump, na cúpula do G20. Segundo uma autoridade do governo norte-americano, o objetivo da reunião entre os presidentes é retomar as negociações comerciais, e existe uma boa chance de isso acontecer.
No cenário interno, o mercado segue aguardando o avanço da reforma da Previdência na comissão especial da Câmara. Além disso, nesta terça-feira, as atenções se voltaram para a inesperada decisão do STF de julgar dois pedidos de liberdade apresentados pela defesa de Lula ainda nesta terça-feira. Antes de iniciar o julgamento, o ministro Gilmar Mendes chegou a propor ao colegiado que o ex-presidente respondesse ao processo em liberdade. Mais cedo, o mercado repercutiu a divulgação da ata da reunião do Copom, que indicou que o PIB deve ficar próximo da estabilidade no segundo trimestre. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o cenário da autoridade monetária é de retomada adiante de forma gradual.
JBS (JBSS3) avançou 0,5%, devido ao crescimento da demanda do mercado chinês, cujo rebanho passa por impacto da crise de peste suína africana. Nos Estados Unidos, a controlada Pilgrim's Pride foi alvo de abertura de investigação criminal sobre suposta prática de conluio para fixação de preços de carne de frango.
Itaú Unibanco PN (ITUB4) fechou em queda de 1,25%. No setor, Bradesco PN (BBDC4) e Banco do brasil (BBAS3) caíram 0,84% e 0,92%, respectivamente, e Santander BR recuou 1,6%. As ações da B3 (B3SA3) lideraram as quedas na sessão, recuando 5,1%. Na véspera, o presidente da comissão especial da reforma da Previdência, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), afirmou que parlamentares aliados ao governo não devem "forçar a barra" ao buscar alterar o parecer do relator Samuel Moreira (PSDB-SP), que inclui aumento da alíquota CSLL cobrada do setor financeiro.
VALE (VALE3) desvalorizou-se 1,95%, refletindo o recuo no minério de ferro. O contrato mais ativo do minério de ferro na bolsa de Dalian fechou em queda de 1,2%, a 798,5 iuanes por tonelada. Petrobras ON (PETR3) perdeu 3% e Petrobras PN (PETR4) caiu 2,6%, em meio aos planos do governo para abrir o mercado de gás no país e tensões internacionais entre os EUA e Irã.
Fontes: Valor e Reuters