Live Necton: Perspectivas econômicas e política monetária com Affonso Celso Pastore

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Live realizada pela Necton Investimentos com o ex-presidente do Banco Central, Affonso Celso Pastore

Introdução

Affonso Celso Pastore é um economista brasileiro cuja trajetória seguiu, em sua maior parte, a vertente acadêmica, tendo publicado diversos livros e artigos e exercendo os cargos de diretor e professor na Universidade de São Paulo (USP).

Também fez parte do setor público, tendo integrado a equipe de assessores do Ministério da Fazenda em 1967 e ocupado o cargo de Secretário da Fazenda do estado de São Paulo, em 1979. Em 1983, assumiu a presidência do Banco Central, permanecendo no cargo até 1985.

Comentários

Affonso Celso Pastore introduziu sua explanação comentando sobre a situação atual do COVID-19 em algumas regiões. Na Europa, apesar da reação tardia, as medidas de lockdown foram bastante restritivas, resultando em uma melhora da pandemia e uma reabertura positiva. Já na América Latina e nos Estados Unidos, a situação continua preocupante e o risco de uma segunda onda de contágio é alto.

Quanto ao Brasil, o tema mais recorrente no mercado diz respeito às projeções dos indicadores para o ano de 2020 e 2021, prevendo o tamanho da recessão e a velocidade da recuperação da economia. Todavia, para Pastore, o alto índice de incerteza faz com que seja impossível elaborar um modelo com previsões bastante confiáveis. No mercado, atualmente, existe uma grande dispersão frente a essas previsões, com a queda efetiva da economia variando entre 4,5% e 7% e a recuperação em 2021 variando entre crescimento de 2,5% e 4,5%.

Para Pastore, não apenas as reações das autoridades serão as responsáveis por ditar a trajetória da economia, mas também a dinâmica da pandemia nos próximos meses, dinâmica esta que varia entre as regiões brasileiras. Os estados do Sul, por exemplo, tiveram forte fechamento da economia, gerando redução substancial do número de casos e mortes por COVID-19, conseguindo uma boa recuperação. Já os estados do Nordeste deixaram a pandemia fluir por mais tempo antes de realizarem as devidas medidas, sofrendo impactos mais severos, principalmente nos índices de consumo, que tiveram grande queda e pequena retomada.

O próximo tópico que foi abordado pelo economista foram as reações dos governos e a dinâmica da dívida brasileira. Frente à circunstância extraordinária que o país e o mundo estão vivendo, Pastore acredita ter sido correta a decisão de elevar os gastos do governo, desrespeitando o teto de gastos. As previsões são de que o déficit primário brasileiro fique próximo a 10% do PIB, a depender do tempo de duração do auxílio emergencial. Considerando, então, uma queda do PIB de 6,4%, previsão feita pelo Banco Central, a relação dívida/PIB brasileira, que estava em 78% em 2019, chegará perto dos 100% em 2020. No entanto, a atenção deve ser voltada a como o governo irá reagir após a pandemia, levando em conta se o teto dos gastos será cumprido ou será flexibilizado.

A questão referente aos gastos do governo e como estes se darão após a crise tem tido forte influência na inclinação curva de juros. A inclinação da curva de juros tem aumentado, mas não devido ao prêmio pela inflação, e sim ao prêmio de risco. O risco de solvência do governo e a dinâmica da dívida, que depende do superávit primário e da distância entre a taxa real de juros e a taxa de crescimento econômico, tem se mostrado tema preocupante para os mercados. O Secretário do Tesouro deve, então, atuar visando reduzir a taxa de juros implícita, evitando ou minimizando uma dinâmica explosiva da dívida. Para tanto, quando vencerem os títulos públicos curtos e longos, Pastore acredita que o que ocorrerá certamente é o resgate dos títulos longos, diminuindo a oferta destes e, portanto, gerando elevação do preço e queda dos juros. Essa medida deve ser vista como uma solução temporária, pois gerará o encurtamento da dívida e um perfil de vencimento apertado, dificultando a rolagem e podendo elevar novamente o risco. A solução de longo prazo para controlar o risco do país deve ser, então, a manutenção do teto de gastos.

O risco do país também pode ter influência no câmbio. Desde 2017, o real vem se depreciando acima da mediana dos emergentes e apresenta alta volatilidade, característica de uma commodity currency. Com o início da pandemia, as moedas de todos os emergentes sofreram bastante, mas já apresentaram melhora, sendo que atualmente o câmbio dos emergentes está, em média, 5% depreciado em relação ao começo de 2020. No Brasil, entretanto, isso não ocorreu. A depreciação do real foi maior, assim como a volatilidade, e parte disso é advindo do risco. Ainda, para Pastore, o câmbio deve continuar depreciado, principalmente devido às projeções para o balanço de pagamentos. Acredita-se que a conta corrente irá melhorar, mas o líquido de investimento direto irá cair até o fim do ano, gerando déficit na conta capital e financeira. Assim, entende-se que o balanço de pagamentos continuará deficitário, não permitindo valorização mais aguda do real.

Por fim, Pastore apresenta os três fatores que acredita que irão influenciar na recuperação da economia: o patamar no qual o Banco Central estabelecerá a taxa de juros, a dinâmica da pandemia nos próximos meses e qual será a percepção do risco do país, algo que está totalmente correlacionado com a manutenção do teto de gastos.

Time de Análise MZR

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