Livro: More Money Than God

Livros

More Money Than God

More Money Than God, de Sebastian Mallaby, escreve a trajetória dos hedges funds desde as origens nos anos 1950 com Alfred Winslow Jones até o papel que desempenham hoje nos mercados globais. O livro mostra como Jones estruturou um modelo que combinava posições long e short, alavancagem controlada e remuneração variável atrelada à performance (performance fee de 20%), criando um formato que se tornaria padrão para o setor. Sebastian argumenta que essa combinação deu aos hedge funds uma vantagem operacional sobre gestores tradicionais, com liberdade para mudar de estratégia rapidamente e explorar oportunidades em qualquer ativo, classe ou geografia.

A narrativa percorre acontecimentos importantes que moldaram o setor: o trade do George Soros à libra esterlina em 1992, que rendeu cerca de US$ 1 bilhão e consolidou a imagem dos hedge funds como forças capazes de influenciar políticas cambiais; a implosão do Long-Term Capital Management (LTCM) em 1998; e as apostas bem-sucedidas contra a bolha imobiliária antes de 2008, lideradas por gestores como John Paulson. Mallaby também analisa a ascensão de modelos quantitativos, com destaque para a Renaissance Technologies, de Jim Simons, que transformou big data e modelagem matemática em retornos consistentes e descorrelacionados. Ele destaca um ponto-chave: a diferença estrutural em relação aos bancos. Hedge funds, em sua maioria, não contam com apoio estatal e operam sem a proteção de serem “too big to fail”. Isso gera incentivos diferentes e, muitas vezes, mais disciplina na gestão de risco. Enquanto bancos antes de 2008 trabalhavam alavancados 30 vezes ou mais, muitos hedge funds operavam com alavancagens de 1 a 2 vezes o capital dos investidores, mesmo em estratégias consideradas agressivas. Ao mesmo tempo, Mallaby entende que episódios de alavancagem desmedida e falta de liquidez, como no LTCM ou em certos fundos durante 2007-2008, podem amplificar choques de mercado e gerar volatilidade sistêmica.

O livro também desmistifica a hipótese de que todo retorno fora da curva seja pura sorte. Mallaby mostra que, em muitos casos, os gestores desenvolveram metodologias consistentes para explorar ineficiências de mercado — desde arbitragem de blocos de ações e padrões de liquidez até fatores como value e momentum. Ele conecta essa busca por alpha a um debate mais amplo sobre eficiência de mercado, argumentando que os hedge funds, ao corrigirem distorções de preços, podem desempenhar um papel estabilizador, embora sua agressividade também possa gerar distúrbios temporários. Outro mérito é que ele não ignora o lado humano e comportamental do setor: os perfis de gestores como Julian Robertson, Louis Bacon e Ken Griffin revelam personalidades competitivas, dispostas a assumir riscos elevados e a mudar de rota rapidamente quando necessário. Essa capacidade de adaptação é apresentada como fator crítico de sobrevivência e de sucesso em um mercado em que retornos passados não garantem nada no futuro.

No conjunto, More Money Than God é mais do que uma história dos hedge funds, é uma análise de como inovação, incentivos e competição moldam resultados no mercado financeiro. Para investidores e gestores, o livro oferece lições sobre alocação flexível, controle de risco, exploração de ineficiências e a importância de entender que, nos mercados, o edge verdadeiro raramente é óbvio e nunca dura para sempre. É leitura importante para quem quer compreender não só como os grandes nomes construíram fortunas bilionárias, mas também o ecossistema que permitiu que essas estratégias prosperassem (e as vezes colapsassem) ao longo de ciclos de boom e crise.

“All new markets are inefficient at first” ― Sebastian Mallaby, More Money Than God: Hedge Funds and the Making of a New Elite

Outras Publicações