A relação entre a Câmara dos Deputados e o governo, que já não era das melhores, azedou de vez. O projeto de reforma na previdência dos militares, visto como muito suave, e a queda na popularidade do presidente Jair Bolsonaro agravaram a já problemática articulação política.
Responsável por pautar os projetos em plenário e decidir sobre pedidos de impeachment, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), vive o momento de maior afastamento do governo. Maia está irritado desde o fim de semana, segundo aliados. Ele marcou um almoço com Bolsonaro e o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli. Bolsonaro levou 20 ministros e assessores para evitar uma conversa particular. Saiu de lá e escreveu nas redes sociais atacando a "velha política" e a pressão por cargos.
O desconforto escalou nos dias seguintes com o aumento dos ataques por perfis ligados à campanha de Bolsonaro. O presidente da Câmara se queixou do bombardeio nas redes sociais com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
Ontem, Maia não deu andamento à tramitação do projeto dos militares. O texto chegou na quarta-feira, mas ainda aguarda despacho dele - o mais provável é criar uma comissão especial. Em longa reunião, Maia disse a aliados que era o único negociando de fato para aprovar a reforma, mas que a partir de agora torcerá para que dê certo e terá postura mais institucional, deixando que os líderes indicados pelo governo resolvam os problemas da base.