Brasil - 30/07
Após 10 meses de um ciclo de aperto monetário, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu interromper as altas da taxa de referência e manter a Selic em 15%, no mesmo patamar de julho de 2006. A decisão, tomada por unanimidade, reflete o entendimento de que é momento de observar os efeitos das medidas já adotadas. No comunicado, o Comitê deixou claro que pretende manter os juros no nível atual por tempo suficiente para avaliar seu impacto sobre a economia, mas, ainda assim, indicou que pode voltar a elevar a taxa caso o cenário exija.
Segundo o Banco Central, o ambiente global segue instável, com destaque para o aumento das tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos após a imposição de tarifas pelo governo americano. No mesmo dia, o Fed manteve os juros inalterados pela quinta vez consecutiva, o que reforça o cenário de cautela internacional. No Brasil, os dados de atividade apontam para perda de ritmo, com o IBC-Br registrando queda de 0,74% em maio. Por outro lado, o mercado de trabalho segue forte: o desemprego recuou para 6,2%, o menor nível histórico para o período. O Comitê reforçou que seguirá atento às próximas divulgações econômicas antes de qualquer mudança na taxa de juros. Apesar da queda nas projeções de inflação nas últimas semanas, elas ainda permanecem acima da meta, tanto para este ano quanto para os próximos. A inflação acumulada em 12 meses está em 5,35%, e a projeção do Banco Central para o início de 2027 é de 3,4%. No que diz respeito aos riscos, o Copom voltou a destacar incertezas tanto do lado de alta quanto de baixa. Entre os fatores que podem manter a inflação pressionada estão: expectativas desancoradas, inflação de serviços mais persistente e efeitos das políticas econômica e cambial. Do outro lado, uma desaceleração mais forte da economia local ou global e a queda nos preços das commodities podem ajudar a aliviar os preços. O Comitê ainda monitora os impactos das novas tarifas americanas e os desdobramentos da política fiscal sobre os ativos e sobre a inflação.
Visão MMZR:
O Copom optou por manter os juros em 15%, mas sem sinalizar qualquer alívio no compromisso com o controle inflacionário. A decisão reforça uma postura cautelosa diante de um cenário ainda carregado de incertezas. O Comitê evitou dar um sinal claro sobre os próximos passos, o que deve manter a volatilidade na curva de juros nas próximas semanas. Os novos desdobramentos da política tarifária americana, principalmente em relação aos países do BRICS, podem provocar uma desaceleração nas exportações e na atividade econômica como um todo, o que, somado a uma política econômica restritiva pode levar o Brasil até um cenário alternativo de estagflação. Estamos atentos aos embates políticos entre Brasil e Estados Unidos, que têm potencial destrutivo para a economia brasileira e sua moeda, e aguardamos novos dados para ter mais clareza sobre os impactos.
EUA - 30/07
O Federal Open Market Committee (FOMC) anunciou hoje a decisão de manter as taxas de juros de referência (Fed Funds Rate) inalteradas, no intervalo de 4,25% a 4,50%. O comunicado, já esperado pelo mercado, voltou a abordar os temas da busca pela estabilidade no mercado de trabalho e pelo controle da inflação. O trecho referente à economia foi alterado, passando de “continua a crescer” para “desacelerou”. Outra mudança importante foi a substituição da visão de diminuição da incerteza no cenário econômico por uma abordagem mais cautelosa, afirmando que a incerteza continua elevada. Na coletiva de imprensa, o presidente do FED mudou o tom em relação à inflação, demonstrando maior preocupação com o setor de bens, que sofre pressões devido às tarifas, ao mesmo tempo em que vê alívio na pressão sobre os serviços. Ele mencionou que o cenário base prevê um impacto momentâneo na inflação decorrente dessas tarifas. Diferentemente das últimas decisões, esta não foi unânime. Dois membros votantes do FOMC se opuseram à manutenção dos juros inalterados, posicionando-se a favor de um corte de 25 pontos-base. Christopher Waller e Michelle Bowman, que nos últimos meses já haviam adotado discursos mais dovish, votaram contra a decisão de manter os juros no patamar atual. A última vez em que mais de um membro do comitê votou contra uma decisão de política monetária foi em dezembro de 1993. Com os dados concretos (hard data) indicando crescimento econômico e apenas de leve desaceleração no mercado de trabalho, o FED está bem-posicionado para aguardar novos indicadores antes de tomar uma decisão. De modo geral, a postura do banco central permanece a mesma: aguardando dados mais sólidos sobre o mercado de trabalho, o crescimento econômico e, principalmente, a inflação. O discurso de cautela e de espera para reduzir os juros continua vigente até que haja mais clareza sobre os impactos das tarifas na economia americana. O presidente do FED, Jerome Powell, mantém o foco no objetivo de reduzir a inflação sem comprometer o mercado de trabalho, mesmo diante do ruído político e das ameaças diretas do presidente Donald Trump.
Visão MMZR:
Com o prazo final para os acordos tarifários marcado para 1º de agosto, o comitê segue cauteloso em relação aos movimentos nas taxas de referência, receoso quanto a impactos ainda não refletidos nos dados da economia americana. Com a inflação próxima da meta, diversos membros do FOMC vêm adotando discursos mais dovish, sinalizando a possibilidade de um corte na reunião de setembro, mesmo o mercado adotando um tom pessimista após coletiva do Powell. Agora, com dois membros influentes já votando contra a manutenção dos juros e diante de dados positivos do mercado de trabalho e de uma expansão do PIB acima do esperado, o FED tem um caminho livre para "pivotar" já na próxima reunião, ou seja, não seria surpreendente se a maioria votasse a favor do corte de juros. Os dados têm favorecido o comitê, sendo preciso, agora, estar atento às duas rodadas de dados de inflação após o prazo dos acordos tarifários para entender qual será o impacto real sobre a inflação americana.